segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Portas do Sol ou Patsy Cline no ouvido.

 
 
 
 
 
Lisboa não é uma cidade, é um sentimento.
Lisboa é como um dia de Domingo.
Não é um dia.
É um sentimento.
 
Viver uma cidade acarreta ter sentimentos sobre ela. Ou por ela.
Acarreta gostar tanto de viver entre as suas ruas, que seriamos capazes de abrir mão de um Amor, para poder permanecer, nela.
 
O que é abrir mão de um Amor?
 
É ter cá dentro, toda a clareza do mundo, que esse alguém que amamos, decerto vai encontrar um outro alguém.
 
E da forma mais generosa do mundo, existe a certeza, que alguém um dia, irá amar, com o amor que eu deixei de viver, por querer viver em Lisboa.
 
Não é à toa que o Fado nos diz:
 
"Lisboa, mulher da minha vida."
 
Lisboa é a mulher da minha vida.
E é por ela que eu visto a minha manga curta colorida.
 
 
 
(Portas do Sol. 24 de Agosto de 2014. 4h da tarde. Vou me "fartar" de ouvir Patsy Cline...)
 


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Três dedos.



 
 
 
Cortei três dedos do meu cabelo, hoje.
Antes de o Verão terminar cortei aquilo que já havia dele.
Muito sol e muitas pontas ressequidas porque o calor resseca o cabelo e o coração.
 
 
Deve ser por isso que os afectos, os reais, aqueles que não são amores de Verão, devem ser perpetuados no Outono.
 
Viajo dentro de dias, para um Outono de neblinas e temperaturas amenas.
Para uma ilha que me vai fazer fotografar, sentir falta de Lisboa, e sentir falta do meu Amor.
 
 
 
Já disse aqui que existem pessoas que não podem sair jamais de Lisboa.
Eu sou uma delas.
 
 
Se sair de Lisboa perco a sensação de que ele, deambula, sobre a alçada da mesma luz que eu.
 
E o amor precisa dessa luz para ser alimentado.
 
 
Para sonhar.
Romper com o mundo.
 
 
 
Os dias têm sido entre Chico Buarque, os Açores e Lisboa.
 
 
Cortei três dedos de cabelo, e por mais que eu corte, corte, corte, não há corte que eu faça (que eu me faça) que me afaste da desordem do meu armário embutido.
 
 
Quando se gosta, fica-se no corpo feito tatuagem.
E não há cara para sair.
Nem para fazer de conta.
Nem dar olhos para tomar conta.
 
E não há conta para se partir.


( Para Chico Buarque.)

sábado, 16 de agosto de 2014

Um.

 



Se um "Um" no inicio de cada fase das nossas vidas acrescentar, muito mais coisas a tudo aquilo que vamos viver, então este pequeno artigo passa a ser a palavrinha mais importante das nossas vidas.

Um amor.
Um fado.
Um sonho.
Um homem.
Um lugar.
Um pedaço.
Um brilho.
Um chão.
Um beijo.
Um mar.
Um gesto.
Um céu.
Um corpo.
Um despeito.
Um caminho.
Um tempo.
Um olhar.
Um pai.
Um espaço.
Um encanto.
Um amor.
Um fraquinho.
Um amor.
Um conhecido.
Um amor.
Um coração.
Um amor.
Um poema.
Um amor.
Um parecer.
Um amor.
Um riso.
Um amor.




O artigo não podia ser outro.

Um amor que ao seu primeiro som, não tem o som de algo repetido.

( o Cais do Sodré, hoje, tinha o cheiro da Foz do Lizandro).




terça-feira, 12 de agosto de 2014

Chão




O amor é o meu chão.
Os meus dias.
Os meus mares.
O meu riso.
Os meus lugares.
A minha manhã de sábado.
O meu ócio.

O meu livro de segunda à tarde.
A minha Lisboa de chuva.
As minhas fotografias.



Andamos sempre em busca de elevações e de sonhos.
E depois percebemos que estamos agarrados ao chão.

Porquê?

Porque existem pessoas que nos prendem ao chão.
Nos fazem pensar que vivemos numa Nau Catrineta.
Que somos ferro e fogo.
Que a chusma só se salva com amor.

E depois andamos a toque de caixa, porque não sabemos como ter sempre na ideia o nosso maior amor.

Aquele que parte com a nossa metade, que ele já tem.


(Espanha, 2014).

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O Verbo Demorar



Na sacada de Lisboa, um grande amor perguntou-me: "sabes o significado do verbo demorar?"

Respondi sorrindo, pois quando não sabemos o significado de algo, e na inutilidade de ir a um dicionário, devemos sorrir.

Sorrir sempre.

Continuo sem saber o significado do verbo demorar, pois esse tal amor não me conseguiu demonstrar, qual era o seu significado.

Hoje, deambulando entre o vento parado de Lisboa, percebi que só demora quem nós queremos que demore.

O Amor não tem tempo.
Não tem períodos.
Tem a espera.


Só sabemos que encontramos o verdadeiro Amor, quando ele nos escapa das mãos, e por momentos, no tempo parado de Lisboa, percebemos que é ele o grande Amor da nossa vida.


Posso não ter grande ciência para fazer contas.
Mas já não tenho dedos para contar as vezes que paro em Lisboa, por ele.

De reflexos loiros no cabelo, de calor nas mãos, e daqui desta Lisboa, abrirei mão de casar em Berlim, para esperar aqui.

Desculpem, ali no coração do meu amor desconhecido.

"Se o passado
De repente
Mais presente
Que o presente
Te falar também assim
-lembra-te logo de mim."


O Amor em Lisboa faz mover os ventos, o Sol e as outras estrelas.



terça-feira, 5 de agosto de 2014

Ao Longo de Um Claro Rio de Água Doce



"E parecia aquele Tejo este rio doirado.
Parecia até que tu vinhas comigo ao meu lado.
Ou seria das flores e das matas cheirosas
Das madressilvas, dos frutos e das ervas babosas."


E parecia o amor um rio doirado.

Há um rio de amores em Lisboa chamado Tejo.

E há um local no mundo onde sinto que aterrei no sitio mais bonito do mundo.
E o mais remoto.

E o que eu gosto de coisas remotas.

O amor é a coisa mais remota que temos.

Por vezes achamos que está ali à mão.
À mão para semear.

Mas não, antes de se semear, temos que ser fabulosos seres humanos, para o conseguir plantar.

E precisamos de água.
De água doce.
De matas cheirosas.
Das madressilvas.
Dos frutos.
Das ervas babosoa.


E depois disso já temos esse amor semeado, que alguém vai colher, e vai ser alimentado da doçura que plantamos.

Depois pode até essa pessoa se ausentar.

Cá dentro vamos ter sempre a pergunta:

"porque haveria de ter saudades tuas, ao longo de um claro rio de água doce?"


Resposta: porque amamos profundamente alguém.

E eu amo, muito.


(para o meu Pai que completa hoje, 70 anos).

                                                                    
                                                                      Cacela Velha.

                                                                     Julho de 2014.