segunda-feira, 24 de março de 2014

O Amor e a Fotografia


O talento maior da minha vida: Fotografar.



Dou por mim a saber quantos passos os meus pés tem que dar para focar aquilo que pretendo.

É impressionante sentir que foco uma fotografia com o movimento do corpo.


É como o Amor.

Ah pois é, quem julgava que ia sair daqui um texto, vá profissional... está enganado.

Ganha o Amor.
Vence sempre.

O mesmo Amor que eu uso para movimentar o corpo quando preciso fotografar.

Fotografo sempre com teleobjectiva.

Não sei ver o mundo com uma grande angular. Mas ainda vou aprender.


E gosto de dizer para uma certa pessoa ficar ali, naquele lugar, sobre a luz da minha fotografia, e depois click.

E depois aquele resultado imenso.

"Fica bem aí, porque essa luz cumprida, fica tão bonita, de ti para mim."


 
O Amor é saber focar alguém numa fotografia e congelar esse tempo, cá dentro, para sempre.
                                                               Em Lisboa.
                    

sexta-feira, 21 de março de 2014

YUSEF LATEEF




Y-U-S-E-F L   L-A-T-E-E-F.


Nunca consegui dizer bem o nome, mas chego lá.


Este blog é um "fraquinho" muito querido.

Onde deposito em palavras o meu querer bem.

Apetece-me escrever sobre política.

Muito mais do que sobre o amor.


Mas ninguém lê nada sobre política.


E quero tanto que tudo o que escrevo sobre política seja lido.


O amor é mais popular que a política.

E isto é estranho.



No dia em que a política tenha tanta importância como o amor, viveremos então num País de excelência.


E esse dia chega, tal como o dia em que vou conseguir dizer Yusef Lateef, sem que me corrija de seguida.


quinta-feira, 20 de março de 2014

Carta Para Alguém Bem Perto




Passo os dias a escrever.
Mais do que a fotografar.

Passo os dias de caneta na mão e a galgar a cidade enquanto escrevo.

Exercício maior de conhecimento da cidade e de terceiros.


Estou a escrever uma carta.

Vai para muitos anos que não tinha que escrever uma carta.

A última que escrevi foi para me despedir de um emprego, mas isso não é uma carta.

Uma carta só é uma carta se for uma carta de amor.

Epá e nada ridícula.

Há pessoas que estão perto e não ouvem. Então escrevo.
E há pessoas que estão longe. Então escrevo.



Há pessoas tolas, tolinhas, que julgam que o Amor é uma invasão.

Acham que amar é uma invasão na vida de alguém.

"Se eu te amo, logo eu te invado."

E não é isto.


O amor é maturidade.
Umas cartas escritas.
Uns passeios por Lisboa.
E uma vontade louca de não sair um segundo de um certo momento.


Sabem porque é que as pessoas não sabem amar, porque as pessoas já nem sabem onde se compra um selo, na hora de precisar enviar uma carta.


Pus a carta hoje no Correio. Correio normal porque o amor não tem pressa.

Chega para a semana.

E imagino aquele exacto momento da chegada da carta nas mãos do seu destinatário, quando ele lentamente descola o envelope, resistindo à ideia de que aquilo é uma carta de amor.

Depois lê a carta.

Fica com a carta na mão. Guarda a carta. Volta a ir buscar a carta. Lê a carta de novo. Volta a coloca-la dentro do envelope. Tenta colar a carta com a cola que sobrou. Depois coloca na gaveta.
E resiste à ideia de a ir buscar novamente.


O Amor é isto, receber uma carta e não saber o que se quer.


Um dia, anos mais tarde, encontra a carta, e percebe que não foi invadido, mas sim pretendido.



Obrigada Fernanda Young.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Aquela Inquietação



 
 
 


O José Mario Branco vive perto de mim.
E frequenta a Mercearia de uma grande amiga minha, na Calçada de Carriche.

Sim essa mesma calçada de António Gedeão... aquela que Luisa sobe...


E contou-me essa minha amiga que ele, José Mario Branco, jamais quer faturas.

E isto para quem conhece a figura, e para quem conhece a sua geração, é um acto reacionário e maravilhoso.



A época é de inquietação.


Está tudo a mudar e Lisboa diz-me que há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer.
Qualquer coisa que eu tenho que resolver.

E que essa coisa é que é Linda.


Também não quero faturas.


Quero esta cidade.


Na vida nunca deitamos o barco ao mar para ficar a ver navios.


As paredes do Lumiar, o velho e o novo, são o berço de tudo isto.


Oh pah a vida é para ser levada sem faturas. Sempre.


"Luísa sobe, sobe a calçada,
sobe e não pode que vai cansada.

Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.

Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda, Luísa. Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa, larga que larga
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa, larga que larga
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.

Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada,
Anda, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada."



                              Post dedicado à minha grande amiga Joana Louro dona da Mercearia
                                                                             com os
                                                              melhores pêssegos do Lumiar.

domingo, 16 de março de 2014

A Doçura das Tangerinas.





Devemos sempre tirar as tangerinas do pomar quando elas não estão muito doces.


O doce é como aquelas pessoas que nos fazem muito bem e nos engordam.

E de repente temos 100 kg de querer bem.


Mas depois não nos mexemos, não nos movimentamos para ver as outras pessoas, e aqueles locais no cabo do mundo.

E então percebemos que esse querer bem, afinal, faz-nos mal.


Devemos adiar o doce, porque assim, adiamos esse peso dos 100 kg.


O meu afecto pesa 49kg,

Justamente o peso do meu corpo que eu deposito todos os dias na alegria que trago comigo.

Mas essa alegria só existe porque são 49 kg, se fossem 100, não saia de casa.

Não galgava Lisboa.

Nem tinha a capacidade de olhar para os outros sem que estes me tragam peso.


Há pessoas que nos engordam e nos retiram energia.

Mas depois há outras que nos fazem rir tanto que quase que ficamos sem corpo.


E são essas pessoas a quem que devemos dar as nossas tangerinas.




(texto escrito nos degraus da Ribeira das Naus).






sexta-feira, 14 de março de 2014

Al Berto



"falava-te daqui, onde nenhum corpo tem sentido ou se define no tempo
crosta da terra sem esperança, arquipélago de insónia, rectângulo sem sonho
treme-me a voz ao pensar no teu amargo nome
em mim envelheceram muitos países, e todos esses anos de fúria de viver
no entanto, fugirei de casa sempre que for preciso
sem arrependimento, atravessei o tempo medonho dos objectos que tocaste
e possuirei de novo o fulgor dos teus dezassete anos.
(quase noite, amo)."


Tomara que estas palavras fossem minhas.
São de Al Berto e do poema Recado.


É um poema sobre o Amor.

Tema comum nestas lides, e tema mais que falado, em qualquer canto do mundo.

Li de fio a pavio o livro Vigílias de Al Berto no Verão de 2004.

E esta coisa de atravessar o tempo medonho dos objectos que tocaste, para mim nunca foi algo dramático, mas sim belo.


Este poema é belíssimo.

Como o Amor por alguém, quando a nossa voz treme, quando chamamos o seu nome.


Ontem estava politicamente activa e reacionária.

Hoje, por andar com este livro debaixo do braço, e do coração, estou lenta, mexida, e a olhar para os afectos.


A literatura é tramada condiciona imenso os nossos movimentos

Deve ser por isso que toda a gente lê A Guerra dos Tronos.

Tão mais difícil ler Al Berto e sentir que a falta de alguém "em mim envelheceram vários países."


 

 
                                            Eu não sei o que é isso da Guerra dos Tronos.
                                            Mas sei que Obama leu em primeira mão...

quinta-feira, 13 de março de 2014

O Fado da Calçada Portuguesa



Ler notícias sobre o que se passa na minha cidade deixa-me por vezes de boca aberta.


São poucas as coisas que me deixam de boca aberta.

E ultimamente, tenho passado muito tempo de boca aberta.

“a cidade não está preparada para o tsunami demográfico que está a acontecer” a frase é de Pedro Homem de Gouveia, coordenador do Plano de Acessibilidade Pedonal da Câmara de Lisboa (CML), referindo-se ao envelhecimento demográfico de Lisboa.

Engraçado que a palavra tsunami seja aqui usada para um retrocesso, já que o envelhecimento, é o móbil para a retirada da calçada portuguesa da cidade de Lisboa.

Ainda não percebi se vão depois pegar nas pedras retiradas e vender a outros Países.

Haverá muito País desenvolvido da UE que vai querer um bocado da calçada para por em museus e afins, tipo muro de Berlim, que foi divido e distribuído por vários Países, para demonstrar que ele existiu mesmo, e que não era apenas uma cortina de ferro.

Este plano de acessibilidade é promovido por este vereador Pedro do CDS, e mais malta, que está na CMLisboa a ter ideias brilhantes sobre acessibilidade e urbanismo.

Vendo bem um idoso em Lisboa com uma reforma de 200 euros não vai sair de casa para tropeçar na calcada enquanto vai dar os seus passeios. Pois, um idoso em Lisboa não tem dinheiro para passear ou para dar pão aos pombos. Portanto para quê tirar a calçada, quando já tiraram pensões e saúde?


Se calhar mais vale deixar as pedras no lugar.

É assustador constatar que existem Câmaras Municipais neste País que têm mais dinheiro que muitos Ministérios.

E por mais que goste de António Costa, é preferível ser Presidente da CMLisboa, do que Ministro. E é preferível gerir a CML a um Ministério.

Existe um departamento na CMLisboa que tem tempo e dinheiro para criar planos de acessibilidade para combater estacionamentos selvagens e monumentais quedas dos Lisboetas.


Tudo culpa das pedras.
De facto temos imensas pedras no caminho.
E nem dá para fazer com elas um castelo.
Já há o de São Jorge e quem não for nascido nas freguesias de Lisboa, tem que pagar para entrar.


Politicas Camararias que não lembram a ninguém. Ou que nos fazem lembrar, que uma das maiores Câmaras Municipais do País perde tempo com questões que para já não trazem relevância .

O estacionamento selvagem não existe por causa da calçada portuguesa.

Existe porque as pessoas se estão nas tintas para a sua cidade.

Existe porque não há formação cívica.

Tudo isto me lembra o Manel João quando se candidatou à Presidência da República e nos dizia que uma das suas medidas era alcatifar Portugal.


Acatife-se a cidade.
Retire-se a calçada portuguesa.
Mantenham-se estes Vereadores.
Parem os relógios.
Extingam as pensões.
Mandem os idosos para a China.

Tirem as pedras do nosso caminho.

Assim iremos ter uma cidade acessível para toda a gente.

Onde estes mesmos vereadores possam estacionar o seu Mini Cooper.


(amanhã serei trocidada por quem anda de cadeira de rodas, e por mães com os seus carrinhos de bebés. Mas perdoem-me a opinião: não é retirando a calçada que vamos andar certinhos e de coluna direita).

http://www.publico.pt/local/noticia/camara-de-lisboa-pretende-substituir-calcada-porque-a-cidade-precisa-prepararse-para-o-tsunami-demografico-que-ai-vem-1627480

terça-feira, 11 de março de 2014

O Loiro Salgado Pelo Mar



Uma das melhores coisas de viver em Lisboa é estar perto do Mar.

Estar perto do Cais.

Todo esse Cais de Pedra como diz Pessoa onde a Saudade mora.


Não há nada melhor do que saber que através do Tejo chego ao Mar.

É o Mar que me faz mais loira.

É o Mar que torna o meu cabelo mais claro.

Onde eu depois me perco entre a cidade a contar tangerinas.

Já aqui escrevi, descobri tangerinas em Lisboa.
Nos jardins de Lisboa.
E o mais estranho é que nem sei se estamos na época das tangerinas.

Mas no meu coração, estou.


E esta mistura de citrinos com mar faz-me sonhar com um olhar.
E depois só me apetece fugir com esse mesmo olhar.

Rumar para a praia, fazer umas empreitadas de areia, e escrever um nome do lado.

O Português é tramado, resolvemos tudo de areia no pé, sal no rosto, e mar no Coração.

Essas Descobertas que estão vincadas cá dentro.


O meu amor foi embora com a buzina dos navios.
E eu tornei-me devota do Mar, onde todos os dias digo baixinho: meu amor não vás embora.

"Mas ele volta."


Lisboa tem Tangerinas, Mar e Amor.











( texto escrito num outro banco do Principe Real).

segunda-feira, 10 de março de 2014

Uma Casa Portuguesa Com Certeza - Parte II



Descobri vai para uns tempos uma Página de Facebook que se chama "Cavaca Para Presidenta!"

Não sei quem é a alma que está por trás da referida página, mas já dei umas valentes gargalhadas por causa dessa pessoa.


O Cavaco e a sua família revelam, dizem os sociólogos, o que é a verdadeira Família Portuguesa.

De origens humildes e que conseguiram alcançar uma vida abastada a pulso de guerra.

Ora se é esta a definição de Família Portuguesa, então, quase nenhuma das famílias portuguesas tem uma vida abastada, e pior, nem sequer tem essa perspectiva.

Portanto Cavaca & Cavaco não podem ser considerados a verdadeira égide da Família Portuguesa.


E vendo esta fotografia dei por mim a pensar. A minha família é então o quê?


Sou filha da malta de Abril, que viu na Liberdade e na Democracia,que se solidificava nos anos 80, um reduto para que nós tivéssemos um futuro com escolhas.

Mas as escolhas são tramadas, já que pela escolha nasceu Cavaco, e tudo o que isto acarreta.

Eu tenho 30 anos, não me lembro de não haver Cavaco. E isto é assustador.


O legado maior da longa temporada de Cavaco é o provincianismo.

Cavaco e os seus Governos, e as suas Presidências, vetou este País ao Provincianismo.

Porque só alguém muito provinciano é que pode achar que se deve perpetuar o sentido de Família Portuguesa.


Tudo isto vem hoje porque Soares foi hoje considerado pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP) , Personalidade do Ano.


Estamos seriamente equivocados.

Não foi Cavaco que lutou pela Liberdade deste País, ele apenas a destruiu.

(quem lutou foi Soares e Cunhal.)



domingo, 9 de março de 2014

As Tangerinas Do Principe Real



A Saudade se fosse um ingrediente, era Fermento.
Não há nada que alimente mais um ser humano do que a saudade.
Se pudéssemos colocar a saudade dentro de um bolo, ele não caberia no forno.
Quando temos saudade no coração, ele não cabe em lugar algum.

A saudade não é uma coisa boa.
À priori, sentir saudade, é sentir falta de algo que já não temos.
Mas há o reverso deste bolo.
Sentir falta de alguém, de alguém que se foi embora, e ir atrás desse alguém, chama-se: lutar.
A Saudade dá-nos garra para percorrer o Mundo.
Dá-nos garra para nos instalarmos na ideia da esperança de voltar a ter alguém que se foi embora.

Estou a cozinhar um bolo pejado de Saudade.
Sou péssima cozinheira.
Mas à medida que o vou vendo a transpor o forno, a sair cá para fora, a empurrar a porta, a sair da sua lógica, percebo que vou ter alimento por muito tempo.

Vai sair daqui um bolo feio.
Perdoem-me os idealistas, nem tudo o que é feito com Amor, sai bonito.
Por vezes sai único.

Único como o Amor deve ser.


( texto escrito num banco do Principe Real. descobri que há tangerinas no Principe Real).







quarta-feira, 5 de março de 2014

Contigo eu Sou Mundo, e Tu o Meu Agora.

 


 
 
Não devemos expor as nossas vidas.
As redes sociais devem ser um câmbio de trivialidades e nunca de estados de alma ou de afectos.
 
 
 
Mas há domínios públicos que devem ser ecoados para que se oiçam no cabo do mundo.
É o caso do Pedro. Grande Fadista. O Fadista da minha cidade de Lisboa.
 
 
Perdoem-me os apaixonados por Lisboa.
Mas há locais nesta Cidade que são só meus.
E nesses cantos onde eu percorro o tempo, estão alguns Fados, que são só meus.
Um ano depois dos Fados fazerem parte do meu quotidiano, este Fado da Amélia Muge, tem feito a ordem do dia.
 
Ordem do dia porque o canto, perto do meu amigo.
 
Quando for grande quero ter um amigo como o Pedro.
Ah espera, já sou grande, e tenho o Pedro como amigo.
 
 

 


Te quero do avesso
Sem fim nem começo
Te quero assim
Sem tirar nem pôr
Te quero em tom maior

Te quero sem nada
Sem roupa vestida
Sem peça rendada
Coberta de uma luz
Que a sombra seduz

Te quero comigo
Te quero sem mais
Sem coisas que tais
Dos lábios ao umbigo
A pele de quem ama
Estremece como chama

Na pressa de andar
Ao sabor das ruas
Tão cheias mar
De sabor a sal
Sal que vem de ti
Onde eu outra vez
Me vou afogar

E não sei de outro toque
Que mais me arrepie
Na espuma da hora
Contigo me afundo
Contigo eu sou mundo
E tu o meu agora.

terça-feira, 4 de março de 2014

O Auto da Barca do Inferno






Sempre achei o Auto da Barca do Inferno uma espécie de Divina Comédia de Dante.
Já que em ambos temos o caminho para o Paraíso.

Se na Divina Comédia tudo é muito mais existencial, na Barca do Inverno,tudo é maravilhosamente sarcástico, e principalmente muito Português.

O retrato da Lisboa do inicio Séc. XVI, o Diabo que é um grande reacionário, e a ideia do Julgamento das Almas como caminho para a redenção acarreta desde que o Mundo é Mundo, uma imensidão de gargalhadas.

Os grandes erros, aqueles que nos fazem arrepiar até a alma, por norma são acompanhados de gozo e deboche. Talvez seja a única parte boa dos erros. "Como é que eu pude fazer aquilo?"

E fazemos sempre, pois esse caminho da redenção, não é através de um fim mas sim de um caminho, à medida que caminhamos para algo, vamos melhorando o que foi feito anteriormente.

Eu adorava viajar numa Barca que me levasse para um Juízo Final.

Juro que gostava de ter uma avaliação dos meus erros.
E preferia, ao invés de um Paraíso, voltar aqui para a Terra, e olhar o Mundo com outros olhos.


A linguagem de Gil Vicente vai ser sempre das coisas mais deliciosas deste País.

Devo a Gil Vicente o meu primeiro palavrão em público.
Tinha 14 anos, estava nas aulas de Portugûes e a minha professora muito Açoreana (tinha que ser Açoreana) mandou-me ler uma parte que tinha a palavra "PUTA".

Difícil para uma menina bem criada, que tem na educação a égide maior de tudo, dizer publicamente "PUTA".

Cheguei a casa, nesse dia, e contei aos meus Pais o périplo.

Não ligaram nenhuma, mas depois perguntaram.

"Estás a gostar de Gil Vicente, oh minha Pantomineira?"

E eu fui ao dicionário ver o que queria dizer Pantomineira.



Até hoje devo a Gil Vicente muito do meu vocabulário.
E devo a Gil Vicente a minha iniciação aos palavrões de caracter público.


Gosto muito, muito de Gil Vicente.
E não percebo como existem pessoas que não lhe ligam nenhuma.
E pior, não aprenderam nada com ele.



domingo, 2 de março de 2014

Uma Casa Portuguesa Com Certeza.



Aproveitando o facto de mais um escândalo estar a ser vivido neste País, vou dar inicio a este blog, com um post político.


Sim, é escandaloso Vítor Gaspar ter sido nomeado Director para os Assuntos Fiscais do FMI.

O mesmo FMI que deambula nas casas de todos os Portugueses.

Sim ter cá o FMI é ter dentro da minha vida alguém a ditar as minhas contas.
E é muito triste que eu tenha uma trindade que não conheço de parte alguma a ditar os meus comportamentos de cada vez que vou ao supermercado de calculadora em riste, pois não posso gastar mais do que está estipulado.



O Cavaco sempre foi para mim uma figura inenarrável.

Mas o pior é que mesmo sentindo isto sobre a sua esguia figura, a verdade, é que a sua narrativa já tem imensos capítulos.

Esta fotografia é deliciosa.
Aqui eram jovens, Patrícia ainda não estava casada com o dono do MEO Arena.

Cavaco ainda só sonhava ser Presidente.

E eu tinha a certeza que toda a minha geração ia ter um futuro brilhante.

Patrícia casou-se e é feliz com o dono do MEO Arena.
Cavaco chegou à Presidência da Républica duas vezes.



E a  minha geração não tem futuro.

Premissas que eu julgava que iam ser diferentes.



Vivo num País sem Ensino e sem Cultura.

Vivo num País dividido entre pessoas acomodadas no seu pouco mundo, e uma outra grande parte, perdida em faltas de Cultura, Ensino, Emprego e Liberdade.



Esta fotografia acho que já só serve para colocar numa moldura.
Uma mesma moldura que ninguém irá comprar.

O meu País está falido Democraticamente.

Mas por causa de tudo isto, muitos da minha geração, estão a fazer os projectos mais interessantes alguma vez vistos neste País.


O Cavaquismo transformou o meu País em terra queimada.

Mas como num conto de Sepúlveda, vai ser nessa mesma terra queimada, que vão surgir as mais bonitas flores do Mundo.


Sim, aquela fotografia revela uma Casa Portuguesa.

Mas felizmente, não é a minha.





sábado, 1 de março de 2014

Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti.



Dois anos depois de ter criado o Ela Faz Cinema.
Um ano depois de ter ouvido o Fraquinho do Pedro pela primeira vez.


O Ela Faz Cinema foi um blog sobre a perda.
Sobre a perda daquilo que na altura eu achei que era um amor.
E sobre a perda da minha Mãe.


Dois anos depois do início da escrita, das fotografias e da concretização do meu sonho chamado Lisboa, é tempo de olhar então para essa mesma escrita apontando, diariamente, os ganhos.

Passamos a maior parte do tempo a avaliar perdas e danos e por vezes as vitórias ficam entre paredes e entre as nossas pessoas.

Mas os ganhos devem-se ecoar aos quatro ventos.

Como se eu fosse um Vasco da Gama acabado de chegar a Lisboa, depois de, ter descoberto o Mar para a Índia.


E é esta a época, de descobrir caminhos que me levam a ver o Tejo, como porta do Mundo.

A partir de agora a minha casa é aqui. Aqui neste Fraquinho que me aquece os dias.

Fraquinho esse onde se elencam os ganhos e onde se esperam muitas leituras e uma vontade de continuar apenas a tropeçar na excelência das coisas.

Estes textos partem de tudo aquilo que o meu Pai me passou.

E foi ele que me ensinou a ter um fraquinho por quem gosto.

E quem me conhece sabe que se eu tenho um fraquinho, tenho então, todo o Amor para dar.


Era impossível ter outra casa que não fosse chamada Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti.


Descobri neste último ano.
No melhor ano da minha vida que o caminho para ter o que mais queremos nas mãos passa pela verdade das coisas.


E à atenção que temos sobre tudo aquilo que gostamos.


Em Fevereiro de 2013 a descer a Rua da Trindade, no carro, a ouvir o Fraquinho cantado pelo Pedro, sabia que ia começar o caminho mais bonito da minha vida.


O Amor que Faz Mover o Sol e as Outras Estrelas é uma frase de Dante, da chegada ao Paraíso, da sua Divina Comédia.


Pois bem, o Amor faz mover o sol e as outras estrelas, mas só se for em Lisboa.