segunda-feira, 14 de abril de 2014

Paço do Lumiar

O texto que se segue foi escrito num outro blog que já não existe, faz muito, muito tempo.
Hoje faz todo o sentido que esse texto se repita.
A matéria deste texto é dedicada à minha Mãe, e a Saramago.

Lisboa, vai ser sempre a minha ponte para o Mundo.
E o Paço do Lumiar, a minha trincheira.

Fica o texto em memória de Saramago.



"CCB. Era 1999.

Cheguei a casa histérica de um concerto do Fausto. Iria meses depois numa viagem grande para os EUA com esse concerto gravado numa cassete. Tinha 16 anos.

Fui de Boston para NY de camioneta e o condutor era Açoriano. Estive horas na conversa com ele e só falamos de comida, às tantas tive que dormir. Naquela altura dormia imenso.

Acho que hoje não durmo porque naquela altura dormia imenso.

E adormeci a ouvir isto.


Hoje fui visitar a minha mãe.
Nunca vou.
Não gosto de visitar locais onde as pessoas repousam. Não gosto de dormir. Não gosto de descansar.
Logo não gosto de locais onde as pessoas descansam para sempre.

Mas hoje fui.
Deixei lá uma flor branca. Em cima da pedra. Como Saramago queria.

Olhei para o lado e vi um condomínio.
Caramba é mesmo ao lado da minha Mãe.


Devia ter tido inteligência emocional para naquela noite não ter estado tão perto da minha Mãe.

Para não andar de bicicleta.
Para não ver o céu tão baixo.
Para o tempo não ser tão grande.
E o ar muito grosso.
E o cheiro ser aquele.


Era a minha Mãe naquela noite enquanto eu galgava o Paço de bicicleta.

Só hoje percebi, era um sonho lindo.

E generosamente, deixei lá uma flor."

"meu amor tu sabes onde me encontrar 
e uma flor sobre a pedra vais deixar
de cada vez que lembrares de mim
de cada vez que te lembrares de mim."
 
 
 

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